ZEITGEIST

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Blasfêmias de Lutero - Carta de Orlando Fedeli

Lutero disse realmente muitas blasfêmias sobre Cristo. Em suas "Conversas à Mesa" [Tischreden, em alemão] -- que eram anotadas por seus admiradores e que foram editadas em forma de livro, Lutero dizia as piores coisas sobre Deus e Cristo. Essa que você citou sobre um pecado de Cristo com a samaritana, Lutero a disse de fato.

Passo-lhe o texto de Lutero tal qual foi publicado no livro dele "Conversas à Mesa" (perdoe-me citar essa blasfêmia, mas é para que se conheça quem foi Lutero):

"Cristo Adúltero. Cristo cometeu adultério pela primeira vez com a mulher da fonte [do poço de Jacó] de que nos fala São João. Não se murmurava em torno dele: "Que fez, então, com ela? " Depois, com Madalena, depois, com a mulher adútera, que ele absolveu tão levianamente. Assim, Cristo, tão piedoso, também teve que fornicar, antes de morrer" (Lutero, Tischredden, Conversas à Mesa, N* 1472, edição de Weimar, Vol. II, p. 107, apud Franz Funck Brentano, Martim Lutero, Ed Vecchi Rio de Janeiro 1956, p. 15).

Noutra ocasião, Lutero balsfemou contra Deus, ao dizer que Deus age como louco ou como muito tolo:

"Deus est stultissimus" (Lutero, Conversas à Mesa, ed Weimar, N* 963, Vol. I , p. 487. Apud Franz Funck Brentano op. cit. p. 147).

Doutra vez, ao falar Lutero do destino, ele culpava Deus por todos os crimes , e dizia que Judas não podia deixar de trair Cristo, nem Adão tinha liberdade para não pecar. Considerando que era Deus que determinava os pecadores a pecar, Lutero concluia dizendo "Deus age sempre como um louco" (Franz Funck Brentano, Martim Lutero, p. 111).

Recentemente foram descobertos os cadernos pessoais de Lutero. Eles foram estudados pelo Padre Theobald Beer que publicou um livro sobre eles.

Nesse cadernos, Lutero afirma que Cristo é, ao mesmo tempo, Deus e o diabo, o bem e o mal. Ora, isso caracteriza Lutero tipicamente como dualista gnóstico, e explica todas as suas doutrinas mais delirantes.
Pergunta-me você como os protestantes seguem Lutero, apesar dessas loucuras e balsfêmias.

Respondo-lhe dizendo que, em geral, os protestantes comuns desconhecem os escritos de Lutero. Os poucos Pastores que se dão ao trabalho de ler os escritos do heresiarca fundador do protestantismo procuram ocultar tais frases do seu primeiro mestre.

Por isso, quando conheço algum protestante, procuro sempre recomendar que ele leia o que escreveu Lutero. Isso muitas vezes faz com que eles abram os olhos sobre a maldade do fundador do protestantismo.

FRASES DE MARTINHO LUTERO - O REFORMADOR

Diante desses pensamentos eu me calo e penso. Como alguém que tem pensamentos tão dubios é considerado o reformador do "cristianismo" e por extensão dos "evangélicos".

Os homens têm tórax grande e largo, quadris estreitos e mais entendimento que as mulheres, que têm tórax pequeno e estreito e quadris largos. Isto significa que elas devem ficar em casa, sentar-se quietas, cuidar do lar, gerar e criar crianças"

"Do mesmo modo, devemos nos submeter à autoridade do príncipe. Se ele abusa ou faz mal uso dela, não devemos odiá-lo, buscar vingança ou punição. A obediência é devida em nome de Deus, pois a autoridade é o representante de Deus. Por mais que eles tributem e exijam, devemos obedecer e suportar com paciência" (Martinho Lutero, sermão "Tributo a César")

"As palavras e atos de Deus são bem claros: as mulheres foram feitas para ser esposas ou prostitutas" (Martinho Lutero, "Works 12.94")

"O pecado não pode nos separar de Cristo, mesmo que cometamos adultério cem vezes por dia e outros tantos assassinatos" (Martinho Lutero, carta a Melanchton, 01/agosto/1521)

"Não há maior defeito numa mulher que o desejar ser inteligente".

sábado, 28 de novembro de 2009

PREDESTINAÇÃO!

O problema da predestinação é levantado pela especificidade da tradição judeu-cristã: o fato de que Deus revelou-se exclusivamente num povo, Israel, e supremamente num homem, Jesus de Nazaré. Jesus, assim como Paulo, falou dos “eleitos” e dos “poucos escolhidos”. A tensão entre a livre eleição de Deus e a resposta humana genuína está presente já nos documentos do Novo Testamento. Entretanto, Agostinho, em sua luta clássica com Pelágio, foi quem primeiramente desenvolveu uma doutrina madura da predestinação.

Para Pelágio, a salvação era uma recompensa, o resultado das boas obras livremente realizadas pelos seres humanos. A graça não era algo diferente ou além da natureza, nem acima dela; a graça estava presente dentro da própria natureza. Em outras palavras, a graça era simplesmente a capacidade natural, que todos possuem, de fazer a coisa certa, de obedecer aos mandamentos e assim obter a salvação. Agostinho, por outro lado, via um grande abismo entre a natureza, em seu estado caído, e a graça. Profundamente cônscio da impotência total de sua própria vontade em escoher corretamente. Agostinho entendia a salvação como a livre e surpreendente dadivda de Deus: “Atribuo à tua graça e misericórdia, porque dissolveste meus pecados como se fossem gelo”. Se, entretanto, a fonte de nossa conversão a Deus reside não em nós mesmos, mas somente no bom prazer de Deus, por que alguns reagem positivamente ao Evangelho, enquanto outros o desprezam? Essa pergunta levou Agostinho à discussão paulina da eleição, exposta em Romanos 9-11. Aqui ele encontra a base para sua própria doutrina “cruel” da predestinação: da massa da humanidade decaída, Deus escolhe alguns para a vida eterna e omite outros que estão, assim, destinados à destruição, e tal decisão é feita independentemente de obras ou méritos humanos.

Durante os mil anos transcorridos entre Agostinho e Lutero, a principal corrente da teologia medieval dedicou-se a dissolver o severo predestinacionismo daquele. É verdade que Pelágio fora condenado no Concílio de Éfeso (431), e o semipelagianismo, a saber, a visão de que ao menos o inicio da fé, o primeiro voltar-se para Deus, era resultado do livre-arbítrio, foi rejeitado pelo II Concílio de Orange (529). Contudo, a maioria dos teólogos, tentou modificar a doutrina de Agostinho, enfraquecendo a base da predestinação. Alexandre de Hales recorreu ao principio da eqüidade divina: “Deus relaciona-se de igual para igual com todos”. Outros afirmavam que a predestinação era subordinada ao conhecimento prévio, ou seja, Deus elege aqueles que sabe com antecedência que receberão méritos de seu próprio livre-arbítrio. Nenhuma dessas teorias da salvação era “puramente” pelagiana, porque todas requeriam a assistência da graça divina. Ainda assim, o fator crucial continuava sendo a decisão humana de responder positivamente a Deus, em lugar da livre e desacorrentada decisão de Deus de escolher quem desejasse.

Vimos como a doutrina da justificação sustentada por Lutero rompeu decisivamente com o modelo agostiniano de distribuição progressiva da graça. Somos justificados não porque Deus nos está tornando gradualmente justos, mas porque fomos declarados justos com base no sacrifício expiatório de Cristo. Contudo, a partir do princípio anterior da sola gratia , Lutero – e Zuínglio e Calvino depois dele – permanece firme com Agostinho contra os “pelagianos” posteriores que exaltam o livre-arbítrio humano à custa da livre graça de Deus. Nesse aspecto, a linha principal da Reforma Protestante pode ser vista como uma “aguda agostinianização do cristianismo”. Alguns historiadores consideram a doutrina da predestinação de Lutero uma aberração de seus temas principais ou, na melhor das hipóteses, “um pensamento meramente auxiliar”. Mas Lutero via o assunto de maneira diferente. Respondendo ao ataque de Erasmo a essa doutrina, Lutero elogiou o humanista por não aborrecê-lo com questões insignificantes como o papado, o purgatório ou as indulgências. “Apenas você”, ele disse, “atacou a questão verdadeira, isso é, a questão inicial [...] Apenas você percebeu o eixo ao redor do qual tudo gira, e apontou para o alvo vital.”

Uma das queixas de Lutero contra os “teólogos-porcos” era a tese deles de que a vontade humana, em sua própria volição, poderia realmente amar a Deus todas as coisas, ou que, ao fazer seu melhor, mesmo à parte da graça, alguém poderia obter certa permanência perante Deus. A essa avaliação otimista do potencial humano, Lutero opôs um duro contraste entre natureza e graça. “A graça coloca a Deus no lugar no lugar de tudo o mais que ela vê, e o prefere a si mesma, mas a natureza coloca a si mesma no lugar de tudo, e mesmo no lugar de Deus, e busca apenas o que lhe é próprio e não o que é de Deus”. Como “natureza” Lutero não queria dizer simplesmente o reino criado, mas sim o reino criado decaído e particularmente, a vontade humana decaída, que esta “curvada sobre si mesma” ( incurvatus in se ), “escravizada” e manchada com o mal em todas as suas ações. Na Disputa de Heidelberg, em 1518, Lutero defendeu a tese: “Depois da queda, o livre-arbítrio existe apenas nominalmente, e, enquanto, alguém ´faz o que está em si´, está cometendo um pecado mortal”. Inclui-se essa formulação na bula Exsurge Domine , pela qual o Papa Leão X excomungou Lutero, em 1520.

Então, será que Lutero era um determinista absoluto? Erasmo e alguns estudiosos pensavam assim. Lutero, de fato, aproximou-se perigosamente de linguagem necessitariana. Todavia, ele nunca negou que o livre-arbítrio mantém seu poder em assuntos que não se relacionam com a salvação. Assim, Lutero disse a Erasmo: “Sem dúvida você está certo em conferir ao homem algum tipo de livre-arbítrio, mas imputar-lhe um arbítrio que seja livre nas coisas de Deus é demais”. Lutero admitiu abertamente que mesmo uma vontade escravizada “não é um nada”, que, com respeito àquelas coisas “inferiores” a ela, a vontade mantém seu poder total. É apenas com respeito àquilo que é “superior” a ela que a vontade é mantida presa em seus pecados e não pode escolher o bem de acordo com Deus. Aqui, encontramos um paralelo ao desprezo de Lutero para com a razão. Em sua esfera legítima, a razão é o mais elevado dom de Deus, mas no momento em que excede para a teologia, torna-se a “prostituta do diabo”. O mesmo se dá com o livre-arbítrio. Entendido como a capacidade vinda de Deus para tomar decisões ordinárias, para cumprir as responsabilidades no mundo, o livre-arbítrio permanece intacto. O que ele não pode fazer é realizar a própria salvação. Nesse sentido, o livre-arbítrio está totalmente corrompido pelo pecado e cativo a Satanás.

Lutero descreveu a natureza dessa escravidão sob o aspecto de uma luta entre Deus e Satanás.

Assim, a vontade é como um animal entre dois cavaleiros. Se Deus o monta, ele quer ir e vai aonde Deus quer. [...] Se Satanás o monta, ele quer ir e vai aonde Satanás quer; ele não pode escolher correr para um deles ou seguir a um deles, mas os próprios cavaleiros brigam pela posse e controle dele.

Mesmo tendo alguns estudiosos encontrado traços de um dualismo maniqueísta nessa metáfora, Lutero estava meramente desenvolvendo uma imagem já apresentada por Jesus: “...todo o que comete pecado é escravo do pecado” e “Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe aos desejos...” (Jo 8.34,44). Há outro ponto que Lutero desenvolveu com respeito à vontade escravizada. Embora nosso destino eterno, em certo sentido, seja determinado por Deus, não somos com isso compelidos a pecar. Pecamos espontânea e voluntariamente. Continuamos querendo e desejando fazer o mal, a despeito do fato de que em nossas próprias forcas não podemos fazer nada para alterar essa condição. Essa é tragédia da existência humana se a graça: estamos tão curvados sobre nós mesmos que, pensando estar livres, entregamo-nos exatamente àquelas coisas que apenas aumentam nossa escravidão.

O propósito da graça é libertar-nos da ilusão da liberdade, que é na verdade escravidão, e guiar-nos para a “gloriosa liberdade dos filhos de Deus”. Só quando a vontaade recebeu a graca, ou, para usar sua outra metáfora, só quando Satanás é vencido por um cavaleiro mais forte, “é que o poder da decisão torna-se realmente livre, em todos os aspectos concernentes à salvação”. A verdadeira intenção por trás do reforço de Lutero à vontade escravizada mostra-se óbvia agora. Deus deseja que possamos ser verdadeiramente livres em nosso amor para com ele; contudo, isso não é possível até que sejamos libertos de nosso cativeiro a Satanás e ao ego. O eco de resposta à escravidão da vontade é a liberdade do cristão .

Visto que, fora da graça, o homem não possui nem uma razão sã, nem uma vontade boa, “a única preparacao infalível para a graça [...] é a eleição eterna e a predestinação de Deus”. Lutero não se esquivou de uma doutrina de predestinação absoluta e dupla, ainda que admitisse que “isso é um vinho muito forte e comida substancial para os fortes”. Ele até restringiu o alcance da expiação aos eleitos: “Cristo não morreu por todos absolutamente”. Contra a objecao de que tal visão transformava Deus num ogro arbitrário, Lutero respondeu – como Paulo – “Deus assim o quer, e porque ele o quer, isso não é perverso”. A “prudencia da carne” diz que “é cruel e miseravel Deus buscar sua glória em minha maldade. Ouça a voz da carne! ´Meu, minha´, diz ela! Lance fora esse ´meu´ e diga, em lugar disso ´Glória a ti, Snhor´, e você será salvo”. A postura da razão é sempre de egocentrismo. Deus é apenas tão “injusto”, falando estritamente, ao justificar os ímpios à parte de seus méritos, quanto o é ao rejeitar outros à parte de seus deméritos. Ainda assim, ninguém reclama da primeira “injustiça”, porque o interesse pessoal está em jogo! Em ambos os casos, Deus é injusto pelos padrões humanos, mas justo e verdadeiro pelos seus. Lutero recusou-se a submeter Deus ao tribunal da justiça humana como se a “Majestade, que é o criador de todas as coisas, tivesse de curvar-se a uma das escórias de sua criação”. “Deixem Deus ser bom”, clamava Erasmo, o moralista. “Deixem Deus ser Deus”, replicava Lutero, o teólogo.

Embora Lutero nunca tenha suavizado sua doutrina da predestinação (como fizeram posteriormente os luteranos), ele de fato tentou estabelecer o mistério no contexto da eternidade. Lutero nunca admitiu que os inescrutáveis julgamentos de Deus eram realmente injustos, mas sim que somos incapazes de apreender o quanto são justos. Há, segundo ele, três luzes – a luz da natureza, a luz da graça e a luz da glória. Pela luz da graça, tornamo-nos capazes de entender muitos problemas que pareciam insolúveis pela luz da natureza. Mesmo assim, na luz da glória, os retos julgamentos de Deus – incompreensíveis para nós agora, mesmo pela luz da graça – serão abertamente manifestos. Lutero, então, apelava para a reivindicação escatológica da decisão de Deus na eleição. A resposta ao enigma da predestinação encontra-se no caráter oculto de Deus, por trás e alem de sua revelação. No final, quando tivermos prosseguido através das “luzes” da natureza e da graça para a luz da glória, o “Deus escondido” se mostrará um só como o Deus que está revelado em Jesus Cristo e proclamado no Evangelho. Nesse ínterim, Lutero admitiu, podemos apenas acreditar nisso. A predestinação, como a justificação, é também sola fide.

Ninguém conhecia melhor do que Lutero a angústia que o duvidar da própria eleição podia provocar numa alma vacilante. Como um pastor poderia responder a alguém que estivesse atormentado por esse problema? Lutero deu duas respostas a essa questão, uma para o cristão forte, a outra para o mais fraco ou para o novo convertido. A mais alta posição entre os eleitos pertence àqueles que “se conformam com o inferno se Deus o deseja”. A resignação com o inferno era tema popular na tradição mística e significava passividade absoluta, um total deixar-se perder ( Gelassenheit ) ante o abismo do ser de Deus. Lutero dizia que Deus dispensava esse dom aos eleitos de maneira breve e escassa, quase sempre na hora da morte.

Mais, comumente Lutero era chamado a aconselhar cristãos comuns que estavam atormentados pela questão da eleição. O conselho básico de Lutero era: “Agradeça a Deus por seus tormentos!”. É característico dos eleitos, não dos réprobos, tremer em face dos desígnios ocultos de Deus. Além disso, ele instava por uma completa refutação do diabo e uma contemplação de Cristo. Foi típica sua resposta a Bárbara Lisskirchen, que estava aflita sentindo não se encontrar entre os eleitos:

“Quando tais pensamentos a assaltam, você deve aprender a perguntar a si mesma: “Por favor, em que mandamento está escrito que eu deva pensar sobre esse assunto e lidar com ele?”. Quando parecer que não há tal mandamento, aprenda a dizer: “Saia daqui, maldito diabo! Você está tentando fazer com que eu me preocupe comigo mesma. Meu Deus declara em todos os lugares que eu devo deixá-lo tomar conta de mim [...]”. A mais sublime de todas as ordens de Deus é esta, que mantenhamos diante de nossos olhos a imagem de seu Filho querido, nosso Senhor Jesus Cristo. Todos os dias ele deve ser nosso excelente espelho, no qual contemplamos o quanto Deus nos ama e quão bem, em sua infinita bondade, ele cuidou de nós ao dar seu Filho amado por nós. Desse modo, eu digo, e de nenhum outro, um homem aprende a lidar adequadamente com a questão da predestinação. Será evidente que você crê em Cristo. Se você crê, então será chamada. E, se é chamada, então muito certamente está predestinada. Não deix que esse espelho e trono de graça seja quebrado diante de seus olhos [...] Contemple o Cristo dado por nós. Então, se Deus desejar, você se sentirá melhor”.

A doutrina da predestinação defendida por Lutero não era motivada por interesses especulativos ou metafísicos. Era uma janela para a vontade graciosa de Deus, que se ligou livremente à humanidade em Jesus Cristo. A predestinação, como a natureza do próprio Deus, só pode ser atingida mediante a cruz, mediante as “feridas de Jesus”, às quais Staupitz havia dirigido o jovem Lutero em suas primeiras batalhas.

PENSAMENTOS DE MARTINHO LUTERO.

Quem não for belo aos vinte anos, forte aos trinta, esperto aos quarenta e rico aos cinquenta, não pode esperar ser tudo isso depois.
A medicina cria pessoas doentes, a matemática, pessoas tristes, e a teologia, pecadores.
Martinho Lutero





No casamento, cada pessoa deve realizar a função que lhe compete. O homem deve ganhar dinheiro, a mulher deve economizar.
Martinho Lutero



Deve-se doar com a alma livre, simples, apenas por amor, espontaneamente!
Martinho Lutero



Até aos quarenta anos o homem permanece louco; quando então começa a reconhecer a sua loucura, a vida já passou.
Martinho Lutero



O coração do homem é como o mercúrio, tanto está aqui agora, como logo a seguir está noutro lugar, hoje assim, amanhã a pensar de outra forma.
Martinho Lutero



A mentira é como uma bola de neve; quanto mais rola, tanto mais aumenta.
Martinho Lutero



Nada se esquece mais lentamente que uma ofensa e nada mais rápido que um favor.
Martinho Lutero



Os que se amam profundamente, jamais envelhecem;
podem morrer de velhice, mas morrem jovens.
Martinho Lutero



A paz, se possível, mas a verdade, a qualquer preço.
Martinho Lutero


Todo o pecado é um tipo de mentira.
Martinho Lutero


Pensamentos não pagam imposto alfandegário.
Martinho Lutero


O mundo é como um camponês embriagado; basta ajudá-lo a montar sobre a sela de um lado para ele cair do outro logo em seguida.
Martinho Lutero


Sê pecador e peca fortemente, mas crê ainda mais fortemente.
Martinho Lutero



A família é a fonte da prosperidade e da desgraça dos povos.
Martinho Lutero


Os sinos tocam de modo muito diferente do normal quando morre um amigo.
Martinho Lutero


"Uma masmorra com Cristo é um trono, e um trono sem Cristo é um inferno"
Martinho Lutero


Se eu soubesse que o mundo acabaria amanhã, hoje plantaria uma árvore.
Martinho Lutero



Os que amam profundamente, jamais envelhecem; podem morrer de velhice, mas morrem jovens. O amor é a imagem de Deus, mas não uma imagem da vida. É, isto sim, a verdadeira essência de toda a natureza divina, que fulga em bondade.
Martinho Lutero

“Não há maior defeito numa mulher que o desejar ser inteligente.”
Martinho Lutero

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

JESUS - FOI UM INICIADO?


Muitos estudiosos levantam pistas sobre um período da vida de Jesus no qual ele
teria se dedicado ao estudo das religiões esotéricas da época, incluindo a Cabala,
a mística judaica. Mergulhe nesse fascinante universo de indagações.

Alguns evangelhos apócrifos (Tomé, Felipe, Pistis Sophia e outros) atribuem a Jesus ensinamentos esotéricos que se aproximam muito do gnosticismo (corrente mística que teve sua maior expressão no século 2 d.C.). A autenticidade das supostas palavras do mestre é duvidosa no Pistis Sophia (Fé e Sabedoria) - um documento tardio, do século 2 ou 3, que apresenta uma doutrina gnóstica extremamente rebuscada. Mas parece bastante plausível em Tomé. Certos especialistas chegam mesmo a afirmar que muitas de suas sentenças são mais confiáveis do que as correspondentes nos evangélicos canônicos. A imagem de Jesus que resulta desses textos é bem mais complexa do que a convencional.

Teria ele transmitido dois corpos complementares de ensinamentos: um, esotérico, adaptado à capacidade de compreensão do grande público; outro, esotérico, destinado a um círculo mais íntimo de discípulos?

Numerosas correntes espirituais, dentro e fora do cristianismo, acreditam que sim. Para umas, ele foi um grande mestre da Cabala, a tradição mística judaica. Para outras, o portador de um conhecimento oculto que vem sendo comunicado à humanidade desde tempos imemoriais - conhecimento cujas origens remontam aos mais antigos iogues indianos e, antes deles, aos xamãs pré-históricos. As duas hipóteses não são contraditórias. E mais algumas poderiam ser acrescentadas.

Nesse terreno movediço das suposições, é muito arriscado fazer qualquer afirmação taxativa. Mas, apenas como subsídio à reflexão, é interessante rever, à luz dessas hipóteses, algumas passagens da história de Jesus:

O batismo

Após um período de aproximadamente 20 anos, do qual nada se sabe, ele iniciou sua atuação pública. Essa nova fase da vida foi precedida por um rito inicial adotado por várias tradições místicas. Trata-se do batismo. A prática era utilizada pelos essênios. Mas não apenas por eles. Comunidades esotéricas de diferentes épocas, regiões e ambientes culturais recorreram e ainda recorrem ao mesmo ritual. Nele, o aspirante vivencia, de maneira simbólica, um processo de morte e renascimento. Ao ser submerso na água, "morre" para sua antiga existência. Emergindo dela, renasce para uma vida nova.

A prova de fogo do deserto

Depois do batismo, Jesus viveu ainda uma outra experiência iniciativa, jejuando durante 40 dias no deserto da Judéia. Provas desse tipo são tão antigas quanto o xamanismo e continuam a ser utilizadas por várias tradições místicas. Sua função é submeter o aspirante a uma condição de isolamento e privação, na qual ele seja levado a confrontar o lado sombrio de si mesmo. Nos evangelhos - especialmente em Mateus - esse domínio obscuro da psique assume a forma do Diabo, que assedia Jesus com três tentações: quebrar o jejum, transformando em pães as pedras do deserto; atirar-se do alto do Templo de Jerusalém, para que os anjos o amparassem; adorar o próprio Diabo, em troca do reinado sobre a Terra. Essas três tentações poderiam ser analisadas à exaustão. Mas basta dizer que elas tinham todo o mesmo objetivo: desviar Jesus de sua missão, levando-o a direcionar seus poderes para metas egoístas. Ele as rejeitou, de maneira soberana.

O círculo hermético

Iniciada a missão, suas ações e palavras passaram a atrair um número cada vez maior de pessoas. Os evangelhos distinguem três tipos de público: a grande massa, à qual ele se dirigia nas sinagogas e outros espaços coletivos; um contingente amplo de discípulos, com os quais se mantinha em freqüente contato; e o grupo mais restrito dos "doze", cujos integrantes tiveram que abandonar seus compromissos profissionais e familiares para segui-lo.

A narrativa de João informa que pelo menos dois dos "doze" haviam sido antes discípulos de João Batista, e deixaram seu mestre para aderir a Jesus. A constituição e estrutura desse círculo talvez fossem bem menos informais do que se supõe, obedecendo a um modelo há muito estabelecido nas comunidades místicas.

Um exemplo típico de ensinamento destinado à multidão é o Sermão da Montanha, ambientado numa colina próxima à cidade de Cafarnaum. Sentenças mais densas, encontradas no evangelho de Tomé, mas também aqui e ali nos canônicos, poderiam conter parte das lições esotéricas transmitidas aos discípulos.

O texto oculto na tabuleta fixada na cruz

Depois de o mestre ter sido julgado e condenado à morte, o procurador romano Pôncio Pilatos escreveu pessoalmente numa tabuleta a frase "Jesus Nazareno, o Rei dos Judeus". Essa inscrição, redigida em hebraico, grego e latim, foi afixada à cruz. E costuma ser interpretada como um resumo da acusação imputada a Jesus. Porém, à luz das especulações de que estamos tratando, pode ter um significado bem diferente do convencional. Nazareno parece ser o designativo de habitante da cidade de Nazaré, onde ele teria vivido parte de sua existência. Mas poderia se referir também ao status de nazir ou nazireu, indivíduo inteiramente consagrado a Deus, que, entre outras obrigações rituais, devia se abster de cortar os cabelos.

Sansão, um personagem semi-lendário do Antigo Testamento, era nazir e teria perdido temporariamente os poderes sobrenaturais quando seus cabelos foram cortados. Também na Índia, muitos iogues, devotos de Shiva, não cortam os cabelos e a barba, porque acreditam que os pêlos funcionam como antenas, conectando o corpo físico do homem aos seus corpos sutis. Haveria alguma ligação entre a mística judaica e o shivaísmo indiano? Vários indícios apontam nesse sentido. Mas o desenvolvimento do tema é extenso demais para ser exposto aqui.

Outra palavra da inscrição de Pilatos que costuma ser reinterpretada pelas escolas místicas é o termo rei. Ele não se referiria a um cargo político. Mas ao título que, nos círculos esotéricos, era dado ao indivíduo que iniciava os demais adeptos no conhecimento dos mistérios. O filósofo neoplatônico Porfírio (233-305) foi chamado de Malchos, que significa rei em idioma siríaco. E, com essa conotação de mestre iniciático, a palavra foi amplamente utilizada pelos sufis, integrantes de uma tradição mística que teve sua maior expressão no mundo muçulmano.

Os partidos e as seitas que existiam na Galiléia na época de Jesus

Jesus era um judeu, dirigindo-se a interlocutores judeus. E, como tal, contracenou com os diversos grupos político-religiosos que se movimentavam em Israel no seu tempo. Em vários momentos de sua atuação pública, ele divergiu desses partidos e seitas, e criticou duramente seus adeptos. Suas palavras não eram nada suaves nessas ocasiões: "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Sois semelhantes a sepulcros caiados, que por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda podridão". Quem eram esses indivíduos que despertavam a indignação do mestre? A que segmentos sociais estavam ligados? Quais suas principais idéias em matéria de política e religião?

Saduceus

Integrantes de um partido constituído por grandes proprietários de terras (anciãos) e membros da elite sacerdotal. O famoso historiador judeu Flávio Josefo (35 d.C. - 111 d.C.) escreveu que os saduceus representavam o poder, a nobreza e a riqueza. Conciliadores em relação ao domínio romano, eles controlavam o Sinédrio (o senado de Israel) e o Templo de Jerusalém. Negavam a imortalidade da alma, rejeitavam o Talmude (conjunto de opiniões e comentários dos antigos rabinos) e aceitavam apenas o que estava escrito na Tora (as Sagradas Escrituras judaicas, constituídas pelos cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), cuja redação era atribuída a Moisés. Mais do que qualquer outro grupo, foi os saduceus os principais responsáveis pela condenação de Jesus

Lei (Escribas)

Indivíduos que não estavam ligados a um segmento social específico, nem constituíam uma seita ou partido, na acepção estrita das palavras, porém desfrutavam de enorme autoridade, como intérpretes abalizados das Sagradas Escrituras. Homens de grande erudição, eram consultados em assuntos polêmicos e influenciavam as decisões do Sinédrio, onde estavam representados - por isso, tiveram também sua parte na condenação de Jesus. Ao contrário dos saduceus, cuja atividade religiosa se exercia somente no Templo de Jerusalém, os doutores atuavam também nas sinagogas e escolas rabínicas. Reverenciavam mais do que ninguém a Tora, mas não se prendiam a uma leitura literal do texto sagrado, reconhecendo nele toda uma dimensão esotérica. Muitos doutores pertenciam ao grupo dos fariseus.

Fariseus

Integrantes de um movimento com ramificações em todas as camadas sociais, principalmente nas classes dos artesãos e pequenos comerciantes. Muito religiosos e extremamente formalistas, os fariseus se separavam do resto da comunidade judaica pelo cumprimento ultra minucioso de todas as regras de pureza prescritas na Tora, em especial no livro do Levítico. Daí seu nome, fariseus, que deriva da palavra hebraica perishut (separação). Eram ativos nas sinagogas e, em várias ocasiões, foram admoestados por Jesus, que os criticava por se apegarem aos detalhes epidérmicos da Tora, enquanto negligenciavam seu conteúdo profundo. Dirigindo-se a eles e aos doutores, o mestre os chamou de "condutores cegos, que coais o mosquito e tragais o camelo!" Apesar disso, a doutrina farisaica exerceu forte influência sobre o futuro pensamento cristão, legando-lhe, principalmente, a crença na imortalidade da alma e na ressurreição do corpo. Em política, os fariseus eram nacionalistas, e aguardavam a vinda do Messias, que deveria libertar Israel da dominação romana.

Zelotas

Dissidentes radicais da seita dos fariseus, pretendiam expulsar pelas armas os dominadores pagãos, e cometiam atentados terroristas contra os representantes do Império. Por isso, eram cruelmente perseguidos pelo poder romano. A base social do partido dos Zelotas era formada pelo pequeno campesinato e outros segmentos pobres da sociedade. Sua doutrina era um misto de religiosidade extremada e ultra nacionalismo político. Entre os 12 discípulos mais íntimos de Jesus, havia pelo menos dois zelotas: Simão, o Zelota (não confundir com o outro Simão, que o mestre denominou Pedro), e Judas Eucariotes, aquele que o traiu. O termo Eucariotes, acrescentado ao nome de Judas, tanto pode significar que ele fosse originário da cidade de Kariot, foco da rebelião zelota, como derivar da expressão aramaica ish kariot (aquele que porta um punhal), alusão ao fato de os membros dessa seita andarem armados.

Os zelotas parecem ter depositado grandes esperanças na liderança política de Jesus. Porém a amplitude, a profundidade e o longo alcance da mensagem do mestre se chocaram com o caráter restrito, superficial e imediatista do projeto revolucionário zelota. Isso talvez explique a traição de Judas.

Essênios

Puritano que vivia em comunidades ultra fechadas, como a que se desenvolveu na região de Qumran, às margens do Mar Morto. Muitos essênios eram sacerdotes dissidentes do clero de Jerusalém. Para eles, nem mesmo os fariseus e os zelotas eram suficientemente rigorosos no cumprimento da Lei judaica. Sua confraria - acreditavam - era o único remanescente puro de Israel. Opunham-se à propriedade privada e ao comércio, valorizavam o trabalho na lavoura e levavam uma vida comunal extremamente austera. Praticavam o celibato ou se casavam somente para perpetuar a espécie. Combatiam intransigentemente tanto os romanos quanto o poder concentrado no Templo de Jerusalém, opondo-se ao sacrifício de animais. E aguardavam a vinda do Messias, que deveria liderar uma guerra santa para eliminar os pecadores e instaurar o reino dos justos.

Os essênios cultivavam uma doutrina mística de tipo gnóstico. Seus aspirantes deviam passar por um período de iniciação, que duravam três anos e culminava no ritual do batismo. Pesquisas arqueológicas recentes levaram à descoberta de que havia em Jerusalém um bairro essênio, contíguo ao bairro cristão. Certamente ocorreu uma troca de influências entre as duas comunidades. Mas a especulação de que Jesus tenha pertencido a essa seita é totalmente rechaçada pelos estudiosos contemporâneos. Um essênio jamais se sentaria à mesa de um cobrador de impostos ou perdoaria uma mulher adúltera, como fez Jesus. Apegados aos preceitos de pureza e ao seu próprio orgulho, os essênios se afastavam de um mundo supostamente corrompido para não se contaminarem. Jesus, ao contrário, transgredia deliberadamente essas mesmas regras. E mergulhava no mundo para transformá-lo.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

OCULTISMO EM FOCO - ALPHONSE LOUIS CONSTANT (O Abade Francês)

A Origem Religiosa





O abade francês Alphonse Louis Constant, conhecido nos meios ocultistas como Eliphas Levi Zahed (tradução hebraica de seu nome), é considerado por muitos, o mais importante ocultista do século XIX. Eliphas nasceu no dia 8 de fevereiro de 1810 em Paris, filho do sapateiro Jean Joseph Constant e da dona de casa Jeanne-Agnès Beaupurt. Possuía uma irmã, Paulina-Louise, quatro anos mais velha.


Quando pequeno, Levi possuía grande aptidão para o desenho. Mesmo assim, seus pais o encaminharam para o ensinamento religioso aos 10 anos, quando ingressou no presbitério da Igreja de Saint-Louis em L'Île, onde aprendeu catecismo com o abade Hubault. Aos 15 anos, devido ao seu brilhantismo e dedicação ao sacerdócio, foi encaminhado ao seminário de Saint-Nicolas du Chardonnet, e começou a se aprofundar nos estudos lingüísticos de forma tão notável que logo lia a Bíblia em sua versão original. Em 1830, foi cursar filosofia no seminário de Issy. Mais tarde, ingressou em Saint-Sulpice para estudar teologia.


Após terminar o curso de teologia, Eliphas ascendeu na hierarquia da Igreja e foi aceito nas ordens maiores, ordenando-se subdiácono. Começou a lecionar em um colégio para moças e, seguindo com dedicação a carreira eclesiástica e seus estudos religiosos, escreveu uma peça bíblica chamada Nimrod, e vários poemas religiosos que projetaram sua imagem dentro da Igreja.


Entretanto, o jovem Alphonse sentiu o peso de tantos anos de reclusão e ascetismo. Conheceu uma jovem, pobre, tímida e retraída que os outros padres haviam se recusado a atender e preparar para a comunhão. Eliphas não só aceitou a tarefa, como prometeu tratá-la como filha. A menina, que se chamava Adele Allenbach, de uma beleza pura e cândida, pareceu a Eliphas ser a imagem da própria Virgem Maria. Essa beleza juvenil correspondeu para ele a uma "iniciação à vida", pois amou-a ternamente como se fosse uma deusa, marcando para sempre em sua vida.


Eliphas foi ordenado diácono, em 1835, mas no ano seguinte, quando estava para atingir o cargo de sacerdote, confessou ao seu superior o que havia sentido com relação à jovem, anos antes. Desse momento em diante, as portas da carreira eclesiástica se fecharam brutalmente para ele, o que lhe causou uma grande consternação e abalou sua visão de Deus e do mundo religioso.


Aos 26 anos, Eliphas saiu do seminário e começou uma nova jornada em sua vida. Sua mãe, ao saber de sua saída, suicidou-se. E isso, somado ao fato de que muitos boatos que começaram a circular, diziam que havia sido expulso do seminário pelo seu envolvimento com uma jovem, o deixou muito abalado.








A Descoberta do Ocultismo





Sem experiência do mundo, Eliphas teve muitas dificuldades para encontrar um emprego, principalmente pelos boatos que denegriam sua imagem. Assim, percorreu grande parte da França, trabalhando algum tempo num circo e, em Paris, como pintor e jornalista, atividades que o levaram a conhecer um grande número de intelectuais e estudiosos. Com seu amigo Henri-Alphonse Esquirros, fundou uma revista denominada As Belas Mulheres de Paris, na qual aplicava-se como desenhista e pintor e Esquirros como redator.


Em 1839, Eliphas dirige-se a um local no qual entraria em contato com o oculto e as leituras consideradas proibidas e perigosas para os cristãos, descobrindo que não havia perdido a inclinação para a vida mística e religiosa. Na cidade de Solesmes, havia um convento dirigido por um abade que não seguia as regras oficiais da Igreja e que tinha em seu acervo de documentos, grande quantidade de livros e textos gnósticos, muitos deles ligados à magia e aos seres de outros planos. Assim, Eliphas, estimulado pelos acontecimentos em sua vida, mergulha nessas leituras, procurando entender as relações entre Deus, o homem, o pecado e o Inferno. Lia os mais diversos autores em busca das respostas e, lendo livros da Senhora Guyon, chega à conclusões que mudariam a sua maneira de pensar dali em diante, como ele próprio chegou a descrever: "A vida e os escritos dessa mulher sublime, abriram-me as portas de inúmeros mistérios que ainda não tinha podido penetrar; a doutrina do puro amor e da obediência passiva de Deus desgostaram-me inteiramente da idéia do inferno e do livre arbítrio; vi Deus como o ser único, no qual deveria absorver-se toda personalidade humana. Vi desvanecer o fantasma do mal e bradei: um crime não pode ser punido eternamente; o mal seria Deus se fosse infinito!".


Partiu, então, de Solesmes com uma profunda paz no coração. Não acreditava mais no inferno! Já sem se fixar em emprego algum, Levi começou a escrever e divulgar suas descobertas místicas, que iam diretamente contra as idéias oficiais da Igreja. Também entrou em contato com os escritos do místico sueco Emmanuel Swedenborg (1688 - 1772), que Levi dizia serem capazes de conduzir o neófito pelo "Caminho Real", embora não contivessem a "Verdadeira Verdade".


Após publicar sua Bíblia da Liberdade, Levi foi preso, acusado de profanar o santuário da religião, de atentar contra as bases da sociedade, de propagar o ódio e a insubordinação, e teve de pagar uma multa considerável para a época.


Em 1845, já influenciado por grandes magos da Idade Média, como Guillaume Postel, Raymond Lulle e Henry Corneille Agrippa, Levi escreve sua primeira obra ocultista, chamada O livro das Lágrimas ou O Cristo Consolador.


No ano seguinte Eliphas se casa com Marie-Noémie Cadiot. Matrimônio esse, que acabou sendo um verdadeiro suplício para ele. Influenciado pela esposa, Levi chegou a escrever panfletos políticos incitando o povo contra o governo e a ordem vigente. Foi condenado a um ano de prisão e ao pagamento de mil francos de multa, acusado de estimular o povo ao ódio e ao desprezo do governo imperial; cumpriu seis meses da pena, graças à interferência de Noémie junto ao governo.


No ano de 1847, nasce a filha de Levi. Menina de saúde frágil que por várias vezes, esteve próxima da morte. Numa dessas ocasiões, Eliphas usou seu conhecimento dos sacramentos e das artes mágicas e reviveu a menina, numa cerimônia semelhante ao batismo cristão. Mas, em 1854, a menina não mais resiste às constantes debilitações e falece, para desespero do pai. Essa perda o marcou profundamente e influenciou para que seu casamento não durasse muito.


Eliphas chegou a fundar um clube político, em 1848, mas no ano seguinte abandonou-o, para dedicar-se exclusivamente ao Ocultismo.








A Consolidação do Grande Mestre





Embora saibamos que os estudos ocultistas de Eliphas começaram no mosteiro, a data de sua iniciação, propriamente dita, ainda é duvidosa. Sabe-se que ele colaborou e foi amigo do iniciador do famoso mago Papus. No entanto, tudo indica que o ocultista polonês Hoene Wronski, tenha sido o introdutor de Eliphas no "Caminho". Inclusive, Wronski ao falecer em 1853, em Paris, deixou setenta manuscritos catalogados por sua esposa, à Eliphas Levi, havendo outros que foram doados à Biblioteca Nacional de Paris.


No ano seguinte a morte de Wronski, Levi foi para Londres, onde teve contato com vários ocultistas que queriam ver os prodígios e milagres que ele era capaz de realizar. Ao que parece, esses praticantes viam na magia mais um objeto de curiosidade, do que um caminho de auto-realização. Isso fez com que Eliphas rapidamente se afastasse deles, isolando-se no estudo da Alta Cabala, fato que acabou abrindo ainda mais sua percepção mágica.


Eliphas encontrou, nesse período, um Grande Adepto (uma pessoa que atingiu um dos Grandes Graus dentro das Ordens da Senda Real e da realização divina), que se tornaria seu grande amigo: Edward Bulwer Lytton. Os dois Mestres teriam trocado informações iniciáticas sobre as sociedades ocultistas, das quais certamente eram os grandes expoentes. Inclusive, consta que teriam realizado trabalhos espirituais em conjunto, indo desde invocações a contatos com seres de outras esferas de realidade. As anotações desses trabalhos foram parar nas mãos de Papus, e publicadas posteriormente. Nesse material, existem registros sobre três visões de Levi e Lytton: de São João, de Jesus e de Apolônio de Tiana (na qual Apolônio é descrito como um velho). Nessas invocações e visões, teriam entrado em contato com forças que lhes revelaram os mistérios dos Sete Selos do Apocalipse, possibilitando a compreensão da Cabala Mágica; conheceram eventos futuros sobre a vida de ambos e sobre a humanidade; conheceram a Magia Celeste; também fora-lhes dito sobre as chaves dos milagres e de todos os prodígios mágicos; e, parte mais difícil da busca mágica, como manter e honrar os saberes conquistados na Senda e na Busca pelo Real Caminho.


Em 1855, Eliphas começou a publicar a Revista Filosófica e Religiosa, sendo que vários artigos da mesma, seriam posteriormente utilizados em seu livro A Chave dos Grandes Mistérios. Nesse mesmo ano, publica sua obra mais conhecida: Dogma e Ritual da Alta Magia, desvendando as várias faces do saber mágico. Publica também, o poema Calígula, retratando na personagem, o imperador Napoleão. Desse modo, é preso imediatamente, sendo solto após algum tempo.


Em 1859, publicou História da Magia, em que relata o desenvolvimento mágico ao longo da história, e que compõe, com os dois livros anteriores, o conjunto de livros ocultistas tidos como uma "bíblia", por todos os que vieram a estudá-los.


Eliphas estava sempre cercado por grande número de amigos e discípulos, todos eles com conhecimentos profundos; muitos estavam ligados às várias linhas mágicas e sociedades esotéricas que existiam na Europa do século 19, a maioria deles, compondo a elite cultural parisiense da época. Mesmo assim, ainda que tendo acesso a todo o luxo que desejasse, Eliphas manteve uma vida bem simples, mantendo sempre o seu espírito em um estado de paz e quietude. Sempre tomava cuidado com o que comia e bebia, evitando os extremos de calor e frio, e vivia numa casa fresca e arejada. Também se dedicava a exercícios moderados para manter o corpo forte. Aos que adoeciam e o procuravam, sempre recomendava remédios naturais e um estilo de vida como o que levava: simples e dedicado.


Em 1862, publicou aquela que, segundo ele próprio, era sua obra mais elaborada: Fábulas e Símbolos. Consta que o livro não contou apenas com a erudição de Levi, mas que ele estava inspirado por forças maiores, como se as idéias simplesmente nascessem, e a própria Vontade Divina agisse, movendo suas mãos. Ele se sentia em extrema comunhão com a Luz que envolvia seu trabalho.














O Destino Selado





Seu trabalho ficou cada vez mais conhecido e não havia quem não quisesse conhecer Eliphas. Entretanto, quando tudo transcorria calmamente, uma visita mudou sua a pacata vida.


Era um rapaz bem vestido, com um sorriso sarcástico e que, em tom jocoso, cumprimentou Eliphas formalmente, entrando na casa como se fosse sua própria. Assustado, Eliphas procurou descobrir quem era aquele rapaz. O jovem disse que, embora não o conhecesse, ele sabia tudo sobre sua vida, tanto seu passado quanto seu futuro, e continuou, dizendo: "Sua vida está regulada pela lei inexorável dos números. Sois o homem do Pentagrama e os anos terminados pelo número cinco sempre vos foram fatais. Olhai para traz e julgai: em 1815 vossa vida moral começou, pois vossas recordações não vão além, em 1825 ingressastes no seminário e entrastes na liberdade de consciência; em 1845 publicastes A Mãe de Deus, vosso primeiro ensaio de síntese religiosa, e rompestes com o clero; em 1855 vós vos tornastes livre, abandonado que fostes por uma mulher que vos absorvia e vos submetia ao binário. Notais que se houvésseis continuado juntos, ela vos teria anulado completamente ou teríeis perdido a razão. Partistes em seguida para a Inglaterra; ora, o que é a Inglaterra? Ela é o Iod da Europa atual; fostes temperar-vos no princípio viril e ativo. Lá vistes Apolônio, triste, barbeado e atormentado como estavas naquele período. Mas esse Apolônio, que vistes era vós mesmo; ele saiu de vós, entrou em vós e em vós permanece. Vós o revereis neste ano de 1865, mais bonito, radioso e triunfante. O fim natural de vossa vida está marcado (salvo acidente) para o ano de 1875; mas se não morrerdes neste ano, vivereis até 1885".


Após isso, riu-se e incitou Levi com ambições e alusões à sua grande capacidade mágica e erudição. Além disso, durante todo o tempo, mostrou desprezo pela figura de Cristo e ainda disse: "Vós negastes minha existência, chamo-me Deus. Os imbecis denominam-me Satã. Para o vulgo chamo-me Juliano Capella. Meu envelope humano tem vinte e um anos; ele nasceu em Bordéus; tem pais italianos".


O estranho visitante, então partiu, e jamais os biógrafos de Eliphas Levi encontraram qualquer traço do mesmo. O ano de 1865, como ele tinha predito, foi triunfal para Eliphas, pois a publicação de sua Ciência dos Espíritos trouxe-lhe enorme reputação entre os ocultistas de seu tempo.








Da vida para a História





Em 31 de maio de 1875, como o visitante daquele dia havia profetizado, Eliphas Levi falece. Sua morte transcorreu sem agitações. Com coragem e resignação, ele se manteve calmo, pois sabia que sua missão havia sido realizada, tanto no que diz respeito a realizações externas como espirituais. Deixou poucos bens materiais, já que sempre viveu humildemente. Em seu testamento, deixou apenas manuscritos e algumas obras de arte em nome de pessoas próximas, e também algo para a caridade.


Eliphas Levi não foi só um grande ocultista, mas um grande homem. Não se dedicou apenas a descobrir e desenvolver suas habilidades mágicas; seus feitos não eram o objetivo do caminho verdadeiro, mas uma conseqüência; o efeito das experiências de contato com o Deus que sempre habitou em seu coração. Eliphas procurava a conexão com o saber maior; queria desenvolver seu espírito para que ele rompesse a prisão do dualismo e superasse o universo das ilusões e das aparências. Seus livros são chaves que ajudam os iniciados a abrir portas, descobrindo a sabedoria dos mais diversos planos de existências. Através de seus estudos pode-se compreender a verdadeira Kabbalah, a qual permite entender o mecanismo da vida e da criação nos mais diversos planos de existência.


Acima de tudo, Eliphas demonstrou ser um exemplo, de como se devem portar os grandes mestres ocultistas, agindo com humildade, calma e sabedoria; permitindo que sua aura permeie o ambiente e transmita a Luz em todas as direções. Deixando para a humanidade, como sua grande e maior obra, a própria vida.

OCULTISMO EM FOCO - HELENA PATROVNA

Helena Patrovna Hahn Fadéef nasceu em Ekaterinoslav, Russia; em 30 de julho de 1831. Era filha de Pedro Hahn da família Macklenburg e de Helena Fadéef, família nobre que lhe concedeu uma educação completa: pianista e conhecimento profundo em idiomas e literatura.


Em sua infância, alguns presságios atribuíam a Helena um aspecto misterioso e catastrófico. Em seu batizado, acidentalmente a túnica do sacerdote foi incendiada, ferindo e assustando alguns que estavam presentes na cerimônia. Anos mais tarde, Helena brigou com um colega e ameaçou enviar-lhe um diabo que lhe faria cócegas até a morte. O garoto aterrorizado correu, escorregou e caiu num rio morrendo afogado.


Após a morte de sua mãe, foi enviada para a companhia de seu avô, o governador de Saratov, que vivia num castelo que diziam ser encantado. Aos cinco anos era capaz de hipnotizar; e aos quinze utilizava-se da clarividência.


Esteve na França e Inglaterra em 1845 e em 1848. Contra sua vontade, casou-se aos 17 anos com o general Nicephore V. Blavatsky, 51 anos, governador de Etivan. Porém, seu matrimônio durou apenas três meses. Helena fugiu de casa e foi para Constantinopla, onde permaneceu o tempo necessário para legalizar o processo de separação.


No Egito conviveu com um mestre Copta que a iniciou em ciências ocultas. Através desse mestre, tomou conhecimento das Estâncias de Dzyan; um livro guardado num mosteiro tibetano que continha ensinamentos ocultos da sabedoria Oriental antiga. No ano de 1851 em Londres, recebeu a missão de um mestre hindu de fundar uma sociedade espiritualista transcendental.


A partir deste momento, deu início a sua peregrinação pelo mundo, passando por Canadá, Estados Unidos, México, Peru, Índia, Ceilão e Nepal. Conheceu as colônias holandesas e Cingapura em 1853, sempre bancada por seu pai e a herança de uma tia. Sua volta ao mundo se estendeu até 1867, chegando a residir em Cáucaso e Ucrânia. Helena ainda permaneceu alguns meses no Tibet, onde recebeu a Iniciação. Seguiu para o Cairo, Palestina e Grécia, onde foi ferida na Batalha de Mentana. De volta a Londres, conhece Kout Houmi Lal Singh, um misterioso personagem com quem passou a se corresponder. Helena recebeu As Estâncias de Dzyan de um grupo ocultista indiano. Porém, em uma viagem a Calcutá, passou a ser pressionada para devolvê-lo; caso contrário, sua vida seria abalada por diversas infelicidades. Helena adoeceu mas ainda perambulou pela Europa. No decorrer dos anos, fatos estranhos a atormentaram: o navio que viajava explodiu em 1871 e ainda foi vítima de uma tentativa de assassinato. Assustada com essas ocorrências, decide ceder as pressões e entregar o livro.


No ano de 1872 em Paris, Madame Blavatsky, como também era conhecida, tentou pela primeira vez fundar uma sociedade ocultista. Nessa longa peregrinação, Helena desenvolveu suas habilidades psíquicas através de treinamentos e experiências ritualísticas. No mesmo ano foi residir em Nova York, entrando em contato com o movimento espírita Irmão Eddy, com os Mórmons e estudou Voodoo.


Depois de breves viagens pela Europa Oriental em 1873, retornou para Nova York. No ano seguinte, conheceu o norte americano Cel. Henry Steel Olcott, com quem fundou a Sociedade Teosófica em 1875. Dois anos mais tarde, lançou Isis sem Véu, que contêm mais de 1.300 páginas e esgotou-se no primeiro dia de lançamento; deu continuidade aos primeiros conceitos sólidos da Sociedade. Helena também lançou a revista The Theosophist; e a sede da Sociedade foi transferida para Madras, Índia. Por todo este período, sofreu pressão de grupos indianos para que nada fosse revelado sobre As Estâncias de Dzyan.


No ano seguinte, viajou para a Europa mas se estabeleceu na Índia. Em 1885, adoeceu e foi para a Alemanha, onde deu início ao trabalho de A Doutrina Secreta. Em maio de 1887, foi morar em Londres, e lançou a segunda revista Lúcifer (Lúcifer significa literalmente Portador da Luz). Publicou A Doutrina Secreta e fundou a Escola Esotérica em 1888. Em 1889 publicou A Chave para a Teosofia e A Voz do Silêncio. Finalmente em 1890, estabeleceu definitivamente a sede da Sociedade Teosófica em Londres; aonde veio a falecer em 8 de maio de 1891, sendo cremada no Working Crematorium.


Helena Blavatsky foi um dos principais ícones da ciência e ocultismo do século XIX. Seus Mestres a chamavam de Upasika. Na Rússia era conhecida pelo seu pseudônimo literário, Radha Bai, e considerada a reencarnação de Paracelso


Blavatsky é a responsável pela introdução do conhecimento oriental do Ocidente, incluindo os conceitos de Karma e Reencarnação; além de expor ao mundo a idéia de que todas as religiões partem de uma única base primitiva.


Suas obras A Doutrina Secreta, Isis sem Véu, A Voz do Silêncio e O Simbolismo Arcaico das Religiões, teriam sido inspiradas através da leitura por clarividência de As Estâncias de Dzyan. O crítico inglês William Emmett Coleman, calculou que para escrever Isis sem Véu, Blavatsky precisaria ter estudado 1400 livros por ela desconhecidos. Mas sua grande contribuição é, sem dúvida alguma, a Sociedade Teosófica. Após mais de cem de sua fundação, possui adeptos em toda parte do mundo e permanece estabelecida como uma das principais bases de conhecimento da atualidade.








Teosofia





A palavra Teosofia vem do grego Theosophia e significa literalmente Sabedoria Divina. Seus primeiros registros históricos se encontram no Egito do século III, cunhados por Amônio Saccas e seu discípulo Plotino, filósofos neoplatônicos fundadores da Escola Teosófica Eclética. A Sociedade Teosófica contemporânea é a sucessora desta Escola.


O termo Teosofia também adquiriu um significado secundário de verdade relativa. Na Filosofia Oriental é conhecida como Filosofia Esotérica ou Oculta, ou ainda Pensamento Teosófico. Esses termos foram criados para distingui-la do significado primitivo.








Sociedade Teosófica





"As doutrinas fundamentais de todas as religiões se comprovarão

idênticas em seu significado esotérico, uma vez que sejam desagrilhoadas

e libertadas do peso morto das interpretações dogmáticas, dos nomes pessoais,

das concepções antropomórficas e dos sacerdotes assalariados".





Fundada em Nova York, no dia 8 de setembro de 1875 por um pequeno grupo onde se destacavam Helena Blavatsky e o Cel. Henry Steel Olcott, a Sociedade Teosófica teve sua sede internacional legalmente estabelecida em 3 de abril de 1905, na cidade de Chennai, sul da Índia.


A Sociedade Teosófica não pode ser definida como uma religião, e sim um credo. Seu lema é "Não Há Religião Superior à Verdade”, do sânscrito Satyan nasti para Dharmah". Sendo que a palavra Dharmah significa entre outros Doutrina, Dever, Justiça ou Lei.


Os adeptos de diversas religiões aderiram a Sociedade Teosófica no decorrer de seu desenvolvimento; pois não é necessário abandonar crença ou dogmas, basta aceitar seus objetivos primários. Os objetivos da Sociedade Teosófica estão baseados na Fraternidade Humana e na Busca da Verdade:


1º - Formar um núcleo da Fraternidade Universal da Humanidade, sem distinção de raça, credo, sexo, casta ou cor.


2º - Encorajar o estudo de Religião Comparada, Filosofia e Ciência.


3º - Investigar as leis não explicadas da Natureza e os poderes latentes no homem.


Embora não atue diretamente nas causas religiosas, sociais, políticas e econômicas, a Sociedade Teosófica tem seu poder transformador agindo em seus membros. Através de seus objetivos promove a superação da ignorância e dogmatismo individual, por conseqüência, há uma mudança no coletivo humano.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

SARGÃO X MOÍSES-TRANSLITERAÇÃO E SUBVERSÃO DA BÍBLIA.

Introdução

Este não é um opúsculo acadêmico, no sentido estrito do termo. E nem mesmo poderia ser: qualquer professor ou pesquisador ligado a uma universidade estaria se expondo a perder sua cadeira ou ajuda de custo para pesquisa, se atrevesse a publicar algo de teor parecido com esta obra. Pois, de fato, para muitos esta obra será considerada execrável, blasfema, digna de ser queimada após a leitura. E isso, pelo simples fato de que aqui, em não muitas páginas repletas de citações, viemos desmascarar a maior mentira que já foi propagada em toda a história da Humanidade. Fazemos isso não por desconsiderar aquele que teve seus ensinamentos criminosamente deturpados por grupos fanáticos, sedentos de poder, coisa que ele mesmo certamente desaprovaria de forma extremamente veemente.

Estamos, sim, honrando a memória de um número gigantesco de inocentes que foram massacrados num espaço de vários séculos, unicamente porque não queriam se curvar perante a grande mentira. E também em honra a esses heróis inocentes, que decidimos que este trabalho alcance virtualmente, a todos , (“sine adulterare“). Num mundo corrompido, em que mercenários se levantam em todos os campos com a única intenção de saciar sua sede por dinheiro, optamos em reverenciar o nobre costume da Velha Tradição, que não permite que se faça da religião um comércio. Estamos certos de que fundamentalistas de todos os matizes não aprovarão esta obra, que certamente tentarão desacreditar como “coisa do demônio”; afinal, estaremos aqui gritando para todo o mundo a respeito do mal que fizeram e ainda fazem à Humanidade. Porém, não serão mais inocentes os fundamentalistas que conseguirem ler todo este trabalho; as mentiras que divulgam, muitas vezes crendo tratarem-se de verdades incontestáveis, caem como castelos de cartas diante do vento poderoso da História das antigas civilizações, notadamente da gloriosa Civilização Egípcia, por razões ligadas estreitamente às mesmas mentiras que tem sido apregoadas há tantos séculos.

Também teremos uma pequena parte demonstrando os métodos utilizados para que a grande mentira fosse imposta à força às populações de todo o mundo, com ênfase na Europa, por termos relatos históricos confiáveis à disposição, e por nos mostrar que, basicamente, os mesmos métodos baixos de caluniação e descrédito estão em uso até hoje contra os que não querem mais seguir a grande mentira. Nos abstivemos deliberadamente de encerrar o presente com uma “conclusão”; não porque nos faltem condições para tal, mas sim para deixar ao leitor espaço para tirar suas próprias conclusões.

O início da trama

É crença muito difundida, e pouco analisada, de que os cinco primeiros livros da Bíblia teriam sido escritos por Moisés. Os próprios teólogos não mais crêem nisso, embora praticamente não se comente a este respeito dentro das igrejas, e quando se comenta, o piedoso objetivo do comentário quase sempre é classificar os teólogos como “hereges”. De acordo com o que em Teologia se chama de “alta crítica” – que trata de questões referentes à autoria e integridade dos textos bíblicos – , os referidos livros foram escritos por volta de 700 a.E.V1, ou seja, muitos séculos depois dos acontecimentos narrados. A respeito de Moisés, o suposto autor desses livros, os pesquisadores Knight e Lomas, em sua obra “A Chave de Hiram”, informam que:

“[...]Mas antes de nos aprofundarmos na questão das datas é importante lembrar aquilo que sabemos sobre esse homem chamado Moisés e o que a Bíblia nos conta sobre os israelitas e seu novo deus. Percebemos que o nome Moisés é verdadeiramente muito revelador. Estranhamente, a Bíblia Católica Romana Douai informa a seus leitores que significa “salvo das águas”, quando na verdade quer simplesmente dizer “nascido de”. Esse nome Moisés sempre requeria um outro nome que o prefixasse, como por exemplo, Thotmoses (nascido de Thot), Ramsés (nascido de Rá) ou Amenmosis (nascido de Amon). Apesar do elemento “moisés” ser soletrado de maneiras diversas em outras línguas que não o egípcio, significa sempre o mesmo, e nos parece provável que o próprio Moisés ou talvez algum escriba posterior tenha abolido da frente de seu nome o nome de algum deus egípcio, alguma coisa assim como tirar o Donald de um nome escocês, deixando-o apenas com o Mc, em vez de McDonald. A definição católica romana está provavelmente errada, mas se existir alguma verdade histórica nessa idéia, pode ser que o nome de Moisés tenha sido nascido do Nilo”, e então ele se chamaria Hapymoses” (grifamos).

“[...]. Qualquer Faraó que desse uma ordem dessas estaria abrindo mão de seu direito a uma vida eterna quando seu coração fosse pesado. Além do mais, em termos práticos teria sido muito desagradável e pouco saudável ter milhares de corpos em decomposição flutuando na praticamente única fonte de água potável da população. De acordo com o Antigo Testamento, a mãe de Moisés estava decidida a não permitir que seu filho morresse, portanto, colocou-o nos juncos da beira do Nilo em uma cesta impermeabilizada com piche, na qual ele foi encontrado pela filha do Faraó. Faz tempo já se percebeu que esse episódio de nascimento é quase idêntico ao de Sargão I, o rei que dominou a Babilônia e a Suméria centenas de anos antes de Moisés. Uma comparação rápida mostra as similaridades óbvias:

Sargão

Minha inconstante mãe Concebeu-me: e me teve Em segredo Ela me colocou em uma cesta de vime, com betume selando A tampa. Ela me atirou ao rio, Que não me cobriu.

Moisés

… uma mulher Levita. concebeu e teve um filho… ela o escondeu por três meses. Mas não podia escondê-lo mais. Então ela conseguiu uma cesta de vime, tornou-a impermeável com barro e Piche, colocou-o na cesta. E a colocou nos juncos da Margem do Nilo.“(grifamos)

Temos, logo de início, três valiosas informações: primeiro, o nome de Moisés estava originalmente ligado ao de uma divindade do panteão egípcio. Os autores sugerem que isso se deva ao fato de que Moisés teria de fato um papel importante na corte egípcia de então. Segundo, a monstruosa ordem atribuída a Faraó no sentido de que todos os bebês hebreus do sexo masculino que nascessem fossem eliminados, estaria em total desacordo com os princípios éticos e religiosos do Egito, e faria com que o Faraó perdesse seu direito à vida eterna. Curiosamente, o Livro dos Mortos egípcio mostra que uma das perguntas do Tribunal de Osíris, que tinham que ser respondidas pelos mortos, era se a pessoa havia sujado as águas do Nilo – que seria então do egípcio que enchesse o Nilo de cadáveres! Em terceiro lugar, temos a constatação da semelhança entre as histórias de Moisés e Sargão I da Babilônia. É interessante notar que o atual alfabeto hebraico é, na verdade, assírio, e foi adquirido exatamente durante o período do exílio na Babilônia. Isso parece reforçar a visão da Alta Crítica segundo a qual os livros do Antigo Testamento foram escritos a partir do ano 700 a.E.V.

A narrativa bíblica diz que Moisés teria libertado o povo hebreu da escravidão do Egito, e que seus pedidos a Faraó eram no sentido de que o povo fosse ao deserto oferecer um sacrifício a Yahweh, o deus do povo de Israel. Porém, a esse respeito a História registra que

“Após a expulsão dos hicsos, semitas de todos os tipos, ai incluídos os Habiru, devem ter-se tomado bastante impopulares, e isso explicaria porque os sempre amigáveis egípcios subitamente escravizaram muitos ou todos os remanescentes em seu país durante a década de 1560-­1550 a.C. Inscrições dos séculos XVI e XV a.C. foram encontradas dando detalhes desses escravos Habiru e de seus trabalhos forçados. Uma delas conta como era grande o número dessas pessoas forçadas a trabalhar em minas de turquesa o que deve ter sido extremamente perigoso sem ventilação e com archotes queimando todo o oxigênio. Foi interessante perceber que essas minas estavam a muito pouca distância da montanha de Yahweh, o Monte Sinai, nas montanhas ao Sul da península de Sinai. Seria isso uma coincidência, ou poderia ser que o movimento de escravos Habiru tivesse se dado aqui em vez de no próprio Egito? Achamos registros que indicam que apesar desses protojudeus falarem a língua canaanita, eles adoravam deidades egípcias e ergueram monumentos aos deuses Osíris, Ptah e Hator, o que não combina com a imagem dos nobres e escravizados seguidores de Yahweh ansiosos para serem levados a Jerusalém pelo “deus de seus pais” (grifamos).

Quem quer que já tenha ao menos lido a Bíblia conhece a expressão “Eu sou o SENHOR, que te tirou do Egito”, repetida inúmeras vezes em todo o Antigo Testamento (como em Êxodo 20:2 , Deuteronômio 8:14 e Deuteronômio 20:1 , por exemplo). Esta expressão vem comumente após alguma determinação apresentada como uma ordem direta de Yahweh, que não poderia ser desobedecida. Porém, acabamos de perceber que toda a história de Moisés está extremamente “mal contada”; há a inegável cópia da história de Sargão I da Babilônia, o nome Moisés tem significado totalmente diferente do que fomos acostumados a acreditar e, fato igualmente ou até mesmo mais importante, há registros históricos de que os hebreus (habirus) no Egito não cultuavam Yahweh como seu deus, e sim, as deidades egípcias. Os mesmos autores lembram da divergência existente a respeito da data em que Moisés teria vivido, sem mencionar, porém, uma questão decorrente da narrativa bíblica: segundo a Bíblia, Moisés feriu o Egito com dez pragas devastadoras; pela narrativa, o Egito teria ficado completamente arrasado, devido à natureza e extensão das pragas. Porém, não há nenhum registro na história do Egito que pelo menos sugira que semelhantes calamidades possam ter ocorrido na extensão narrada pela Bíblia; de outra forma, nos parece evidente que teria sido extremamente fácil fixar a época exata da existência de Moisés e do tão falado “êxodo”! Já foi mencionado o fato de que, excetuando-se a praga da morte dos primogênitos, todas as outras nada mais são do que fenômenos naturais, que já foram observados várias outras vezes, inclusive a vermelhidão das águas do Nilo, como mencionado pelo próprio Werner Keller em “A Bíblia tinha razão”.

Estas observações são extremamente importantes, uma vez que os dogmas explicitamente autoritários utilizados como pretexto para se fazer um número absurdamente alto de vítimas de todas as idades, em vários séculos de história2, baseiam-se em narrativas que, à luz de fatos históricos documentados, mostram-se notoriamente manipuladas em seu teor. Não entraremos aqui em investigações sobre os diversos (e possivelmente ímpios e sórdidos) motivos que poderiam ter levado os antigos sacerdotes e escribas a legitimarem tamanha falsificação; nosso objetivo é, antes de mais nada, provocar a reflexão do leitor, despertar o desejo de conhecer a verdade por si próprio, para que o mesmo jamais se deixe levar por “verdades” supostamente absolutas, “reveladas” por algum “profeta” ou “iluminado”. Nem mesmo nos arvoramos em detentores de nenhuma verdade absoluta; o único “título” que nos habilita a falar sobre este assunto é o de ex-seminarista, tendo cursado o primeiro ano do Seminário Teológico Presbiteriano do Rio de Janeiro, com aprovação em todas as disciplinas, durante o ano de 1999 E.V. Outrossim, fazemos questão de citar as fontes das informações aqui reproduzidas, a fim de que qualquer pessoa interessada em desmascarar a presente “obra do diabo” possa descobrir por si mesma onde estão, respectivamente, as verdades e as mentiras.

O grande “mestre iniciado” e incompreendido

É amplamente difundida no mundo a crença em que Jesus era o “cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Evangelho de João 1:29). Já vimos, anteriormente, que a definição de “pecado” está inserida em um contexto dogmático que se baseia em narrativas que, à luz da História, mostram-se comprovadamente deturpadas. Estariam também deturpadas as narrativas que temos a respeito de Jesus?

A maioria das pessoas conhece apenas as narrativas bíblicas sobre Jesus, contidas nos evangelhos atribuídos aos apóstolos Mateus, Marcos, João e Lucas (sendo que Lucas não chegou a conhecer Jesus pessoalmente, como ele mesmo admite), e tende a acreditar que são os únicos relatos disponíveis a respeito do Mestre. Entretanto, isso não é verdade; segundo os próprios teólogos admitem, existem pelo menos mais onze evangelhos datados da mesma época dos quatro evangelhos chamados canônicos3. De acordo com os gnósticos, esse número seria de algumas dezenas. Porém, nos limitaremos aos onze mencionados, por estarem já relativamente bem difundidos, inclusive pode-se fazer o download dos mesmos via internet com bastante facilidade. Estes outros evangelhos, doravante chamados aqui de “evangelhos apócrifos”, trazem suas próprias versões da história de vida de Jesus. Alguns episódios lembram bastante os canônicos, porém, há algumas narrativas ligeiramente diferentes, outras completamente estranhas ao contexto bíblico como o conhecemos normalmente. No evangelho de Pedro (que não possui divisões em capítulos e versículos por não se tratar de texto canônico e sim apócrifo) podemos ler as seguintes passagens:

“[...]Como Maria havia lavado as fraldas do Senhor Jesus e as estendera sobre umas madeiras, o menino possuído pegou uma das fraldas e colocou-a sobre sua cabeça. Imediatamente os demônios fugiram, saindo pela boca, e foram vistos sob a forma de corvos e serpentes. O menino foi curado instantaneamente pelo poder de Jesus Cristo e se pôs a louvar o Senhor que o havia libertado e rendeu-lhe mil ações de graça”.

“Havia lá um filósofo, astrônomo sábio, que perguntou ao Senhor Jesus se ele havia estudado a ciência dos astros. Jesus, respondendo-lhe, expôs o número de esferas e de corpos celestes, sua natureza e sua oposição, seu aspecto trinário, quaternário e sêxtil, sua progressão e seu movimento de leste para oeste, o cômputo e o prognóstico e outras coisas que a razão de nenhum homem escrutou.”

“[...]José concordou e também Maria. Levaram, pois, a criança para o professor e assim que ele o viu, escreveu o alfabeto e pediu-lhe que pronunciasse Aleph. Quando ele o fez, pediu-lhe para dizer Beth. O Senhor Jesus disse-lhe: – Dize-me primeiro o que significa Aleph e aí então eu pronunciarei Beth. O professor preparava-se para chicoteá-lo, mas o Senhor Jesus pôs-se a explicar o significado das letras Aleph e Beth, quais as letras de linhas retas, quais as oblíquas, as que tinhas desenho duplo, as que tinham pontos, aquelas que não tinham e porque tal letra vinha antes da outra, enfim, ele disse muitas coisas que o professor jamais ouvira e que não havia lido em livro algum. O Senhor Jesus disse ao professor: – Presta atenção ao que vou te dizer! E pôs-se a recitar clara e distintamente Aleph, Beth, Ghimel, Daleth, até o fim do alfabeto. O mestre ficou admirado e disse: – Creio que esta criança nasceu antes de Noé. Virando-se para José, acrescentou: – Tu o conduziste para que eu o instruísse, mas esta criança sabe mais que todos os doutores. Depois disse a Maria: Teu filho não precisa de ensinamentos.”

A narrativa de Pedro mostra Jesus versado em Astrologia, apesar da clara e severa proibição da Torah:

Deuteronômio 17:3-5

indo servir outros deuses ou adorando o sol, a lua, ou o exército dos céus – o que eu não mandei -, se te derem aviso disso, logo que o souberes, farás uma investigação minuciosa. Se for verdade o que se disse, se verificares que realmente se cometeu tal abominação em Israel, farás conduzir às, portas da cidade o homem ou a mulher que cometeu essa má ação, e os apedrejarás até que morram.

Em relação às letras do alfabeto hebraico, mostrou também conhecimentos da Kaballah judaica. A primeira passagem é de um notório exagero: as fraldas que Jesus usava quando era um bebê tinham poder sobre espíritos malignos! Isto mostra que estes relatos, tendo sido escritos décadas depois dos acontecimentos, contém diversas imprecisões e mistificações. De qualquer modo, é de se notar que, descontado o exagero de se dizer que Jesus, ainda criança, já era um exímio conhecedor de Astrologia e Kaballah, a menção a esses conhecimentos mostra que ele era certamente um iniciado, ou seja, não era um homem comum. Outro fato digno de nota em relação aos apócrifos é que nem todos mencionam a ressurreição de Jesus, apesar de ser o dogma fundamental do Cristianismo como o conhecemos. Alguns sequer mencionam a crucificação. Eis uma explicação lógica para o fato de que, na própria Bíblia, podemos facilmente verificar que os primeiros cristãos consideravam-se judeus, e porque não havia consenso entre eles em relação à necessidade ou obrigatoriedade de pregar o evangelho aos não judeus: como, de fato, um evento monumental como a ressurreição poderia ter passado despercebido por diversos autores destes evangelhos apócrifos? Como a alegada “grande comissão” de Jesus para que os discípulos pregassem “a toda criatura” poderia, como o próprio Novo Testamento deixa claro, ser notoriamente desconhecida entre vários destes discípulos, se fosse verdadeira?

Podemos considerar, por sinal, que a doutrina conhecida hoje como “cristã” é, na verdade, “Paulina”, ou seja, de autoria ou pelo menos grandemente influenciada por Saulo de Tarso. Bittencourt afirma que

“Logo após a morte de Paulo em Roma por volta do ano 64, surge naquela mesma cidade o Evangelho de Marcos, provavelmente no ano 65, e que serviria de base a duas outras grandes obras futuras. Cópias deste Evangelho logo encontraram seu caminho até as mais distantes partes do império.

Partindo do trabalho de Marcos, cuja conexão com Pedro e com a cidade de Roma lhe dava grande autoridade, Mateus escreve seu Evangelho provavelmente em Antioquia da Síria e Lucas na Grécia, o primeiro entre 80-85 e o último entre 85-90.
E por fim, parecendo desconhecer os outros três, o Quarto Evangelho surge na última década do século, provavelmente em Éfeso”(grifamos).

Podemos inferir claramente deste texto, extraído de um livro de Teologia Cristã, é bom frisar, que Paulo teria exercido uma considerável influência sobre os autores dos quatro evangelhos considerados canônicos pelas igrejas, uma vez que suas cartas teriam sido escritas antes de qualquer um deles. A respeito de Paulo de Tarso, Knight e Lomas nos informam que

O assassinato do Rei dos Judeus pelo procurador romano criou muita publicidade, em toda Israel e mais além, e pessoas começaram a se interessar pelo movimento messiânico. Uma dessas pessoas foi um cidadão romano de nome Saulo, vindo de uma área que hoje é ao sul da Turquia. Seus pais haviam se tornado judeus da Diáspora e ele era um jovem que tinha sido criado como judeu mas sem nenhuma das atitudes e cultura dos puros seguidores de Yahweh em Qumran. A idéia de que seu trabalho era perseguir cristãos é uma insensatez óbvia, porque esse culto não existia nessa época. Os Nazoreanos, agora liderados por Tiago, eram os judeus mais judaicos que é possível imaginar e o trabalho de Saulo era simplesmente, por conta dos romanos, desarticular qualquer movimento remanescente que buscasse a independência.

Os Mandeanos do sul do Iraque, como já discutimos, são Nazoreanos que foram expulsos de Judá e cuja migração pode ser datada com precisão em 37 E.V.: portanto, é quase certo que o homem que os perseguiu foi o próprio Saulo, aliás, Paulo. Saulo deve ter sido o terror do movimento judaico de libertação por dezessete anos, já que era o ano de 60 d.C. quando ele subitamente se viu cego na estrada para Damasco. Hoje em dia se acredita que Saulo não tinha autoridade para prender ativistas em Damasco mesmo se lá houvesse algum, o que parece bastante improvável, e seu destino era, no entender de muitos estudiosos, a Comunidade de Qumran, que era sempre chamada de “Damasco”. Sua cegueira e a recuperação da visão foram simbólicos de sua conversão a um dos partidos da causa Nazoreana. O fato do destino de Saulo ser efetivamente Qumran está claro em Atos 22:14, em que lhe informam que ele seria apresentado ao “Justo”, uma referência óbvia a Tiago. (grifamos)

Logo no primeiro século, a doutrina dos Nazoreanos, os verdadeiros seguidores de Jesus, já havia chegado em vários outros países, inclusive nas Ilhas Britânicas, onde foi estabelecido o chamado Cristianismo Celta. Os cristãos celtas não acreditavam na divindade de Jesus, nem aceitaram a supremacia de Roma e, por estes motivos, seus líderes foram massacrados pela igreja romana. É de se notar, pela leitura das cartas paulinas, que o cristianismo paulino já surgiu com uma evidente vocação para a anatematização de pensamentos discordantes. Sobre isso Knight e Lomas nos esclarecem que

“Uma seita chamada de os Ebionim ou Ebionitas era descendente direta da Igreja de Tiago, seu nome sendo exatamente o mesmo que os Qumranianos usavam para descrever-se – Ebionim, que como sabemos significa “os Pobres”. Esta seita tinha os ensinamentos de Tiago, o Justo, em alta conta, e acreditava que Jesus havia sido um grande mestre mas um homem comum, não um deus. Eles ainda se consideravam como judeus e acreditavam que Jesus tinha sido o Messias após sua “coroação” por João. Há registros que também mostram que eles odiavam a Paulo, a quem viam como o inimigo da verdade. Por muito tempo depois da morte de Jesus e Tiago, os termos Ebionita e Nazoreano eram usados para significar a mesma coisa, e essas pessoas eram condenadas, sob ambos os nomes, como hereges pela Igreja de Roma. No entanto todos os descendentes da Igreja de Jerusalém, exceto o desvio Paulino, acreditavam que Jesus tinha sido um homem e não um deus, portanto, é apenas o próprio e enfeitado Vaticano e seus seguidores que são os verdadeiros pagãos ou “hereges”(grifamos).

As discordâncias entre os cristãos do primeiro século eram notórias, sendo inclusive admitido pelos teólogos que os livros do Novo Testamento foram escritos, entre outros motivos, com o propósito de combater heresias. Esta vocação para amaldiçoar os que crêem de outra forma fez com que a igreja escrevesse algumas das mais infames e vergonhosas páginas de toda a História da Humanidade.

Discípulos envergonhando seu Mestre e sua doutrina

Logo no início da história da igreja, seus seguidores já estavam divididos em vários partidos, sendo que o partido paulino, para infelicidade da Humanidade, acabou prevalecendo sobre os demais e veio a se tornar aquilo que conhecemos como igreja cristã. Outros grupos de seguidores, além dos Nazoreanos, eram os vários grupos gnósticos, sendo que alguns desses já existiam antes de Jesus, e absorveram seus ensinamentos. Os gnósticos também não acreditavam na divindade de Jesus, considerando-o como um iniciado. A ligação entre Jesus e a comunidade de Qmram, bem como seus conhecimentos de Astrologia e Kaballah, demonstrados no evangelho apócrifo de Pedro, mostram que, de fato, ele teria sido um iniciado. Os ensinos contidos em alguns evangelhos apócrifos mostram, entre outras diferenças em relação ao cristianismo conhecido, que a doutrina de Jesus, ao contrário do cristianismo paulino, era tolerante e valorizava as mulheres, considerando-as tão dignas de honra quanto os homens.

Infelizmente, não foram estas as idéias que prevaleceram na igreja, que acabou se transformando numa monstruosa máquina totalitária, exterminando comunidades inteiras, como na cruzada conta os cátaros (uma seita cristã gnóstica) no sul da França do século XIII. Depois de perseguir e quase eliminar os gnósticos, que passaram a praticar suas religiosidades em sociedades secretas, o totalitarismo eclesiástico de Roma voltou-se contra os pagãos, não porque eles realmente praticassem as absurdas torpezas descritas no infame “Malleus Maleficarum“– o famigerado “manual da caça às bruxas” da Inquisição – mas simplesmente porque a Antiga Religião fazia felizes os seus praticantes, que não viram razão para abandoná-la e filiar-se à igreja, apesar das reiteradas e mentirosas pregações no sentido de que os Antigos Deuses nada mais eram do que diabos disfarçados, e que as alegres reuniões pagãs, os sabbaths, eram cultos demoníacos. Nesta insana campanha de perseguição e difamação, as mais grotescas e inverossímeis histórias foram criadas sobre sacrifícios de bebês, transformação de pessoas em animais, e refeições imundas durante as celebrações. Até mesmo animais, supostamente associados ás bruxas, foram considerados amaldiçoados, e ainda hoje há quem acredite, por exemplo, que gatos “trazem má sorte”, que ouvir uivos de cães ou pios de coruja significa que alguém conhecido irá morrer, e outras tolices do mesmo tipo. Porém a despeito do absurdo conteúdo do “Malleus Maleficarum”, ele foi aceito até mesmo pelas igrejas reformadas como “referência” em relação à bruxaria e, em nome dessa estupidez, estima-se que nove milhões de pessoas tenham sido executadas pela Inquisição entre os séculos XV e XVIII. Este nefando livro, certamente uma das mais abomináveis coisas já engendradas pela mente humana, advogava o uso da tortura para obtenção de confissões, e fornece detalhes sobre instrumentos e métodos de tortura a serem utilizados. Sobre o Malleus Maleficarum, seus autores e demais autoridades eclesiásticas que apoiaram esta obra hedionda, cabe o comentário de Gardner que “enquanto existirem padres assim não haverá necessidade de se evocar demônios”. Gardner reproduz o comentário de um piedoso clérigo que reclamava que, numa região da Europa, “ninguém comentava sobre outra coisa a não ser o último sabbath, e não se esperava outra coisa que não fosse o próximo”.

Em nome de um “Mestre Iniciado” que jamais pregou a violência ou o extermínio de seguidores de quaisquer outros cultos, pessoas inocentes foram, durante vários séculos, cruelmente torturadas e assassinadas, pelo simples fato de seguirem outra religião. Comunidades inteiras foram exterminadas. Culturas inteiras perderam-se totalmente, sem que nenhum registro seja conhecido, devido ao vandalismo e à intolerância dos missionários. Em nome de um Mestre Iniciado que jamais amaldiçoou seguidores de outras crenças, quaisquer que elas fossem, seus pretensos seguidores, ainda hoje, espalham o veneno da intolerância religiosa, inclusive utilizando-se dos mais modernos meios de comunicação para essa hedionda tarefa. Em nome de um Mestre Iniciado que ensinou seus discípulos a serem verdadeiros, seus atuais seguidores não hesitam em mentir descaradamente a respeito de outras religiões, a fim de apresentá-las como “enganos do diabo” e, dessa forma tão pouco digna, conseguir novos adeptos. Não somente os espíritas, esotéricos e praticantes das religiões afro são assim caluniados: até mesmo o catolicismo tem sido reiteradamente atacado por outras igrejas, que o consideram “idólatra”, sem considerar a “idolatria” que tem sido praticada e divulgada, com ampla cobertura de mídia e dentro destas mesmas igrejas, em relação aos “artistas gospel”, e mesmo em relação a alguns pastores “famosos”.

Em nome de um “Mestre Iniciado” que teve seus primeiros discípulos entre os mais pobres de Israel, sendo ele mesmo um dos pobres, as atuais lideranças religiosas que dizem “seguir seus ensinamentos” utilizam-se de diversas formas de pressão psicológica sobre seus desventurados rebanhos, a fim de amealhar a maior quantia de dinheiro possível. Não se contentam com o mandamento bíblico do dízimo, certamente insuficiente para financiar o escandalosamente milionário estilo de vida de muitos dos atuais líderes religiosos: utilizam-se dos mais variados, absurdos e às vezes manifestamente ridículos pretextos para “levantar ofertas”, fazem permanentes “campanhas de associação”, divulgadas através de programas de televisão e de emissoras de rádio adquiridas por essas lideranças, campanhas estas com os mais variados nomes, porém, todas com o intuito em comum de arrecadar mais dinheiro.

Em nome de um “Mestre Iniciado” que teria ensinado certa vez seus discípulos a “dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, seus atuais seguidores, pretensos “representantes de Deus na Terra”, desenvolvem cada vez mais uma obsessão pelo poder político, muitas vezes deixando clara a intenção de legislar no sentido de impor a observância de seus dogmas a toda a sociedade, desprezando o conceito de separação entre Estado e Religião. A atuação de vários destes pretensos “representantes divinos” na política se caracteriza por uma repulsiva desfaçatez, sendo que vários se envolveram em escândalos de corrupção política.

Em nome de um “Mestre Iniciado” que ensinou seus discípulos a serem fiéis á verdade dos fatos, alguns de seus pretensos seguidores, logo no início da história do cristianismo, não hesitaram em falsificar deliberadamente relatos a fim de fazer parecer que estavam pregando não a doutrina de um grande iniciado, mas do próprio Deus que teria se encarnado na Terra a fim de livrar a Humanidade do “engano dos demônios”, como os atuais seguidores alegam até hoje quando se referem a qualquer religião de origem não cristã. Estes mesmos pretensos seguidores do primeiro século não hesitaram em caluniar nem mesmo seus próprios companheiros, estes sim, discípulos verdadeiros, mas que eram considerados “hereges” e acabaram sendo perseguidos e anatematizados pelos falsificadores da doutrina.

Em nome de um “Mestre Iniciado” que, segundo os seus atuais seguidores, veio para libertar, prega-se abertamente contra a liberdade humana, e aqueles que se colocam a favor da liberdade são considerados “hereges”, “blasfemos”, “inimigos de Deus”. Formas novas de expressão, novos estilos musicais, livros e filmes tem sido reiteradamente apontados como “obras do diabo”, unicamente por apregoarem a liberdade. A pregação insistente de que manifestações artísticas populares, não cristãs, são necessariamente “demoníacas”, com a conseqûente e pouco disfarçada interdição da apreciação destas manifestações por membros de várias igrejas, não somente é uma maneira hipócrita de criar um “mercado alternativo” para que “artistas” de talento muitas vezes questionável possam ter seu público, mas mostra também que o caráter totalitário ainda está bem presente nas mesmas.

Em nome de um “Mestre Iniciado” que, segundo se diz, curava todas as doenças, ainda se insiste em condenar o uso de preservativos, mesmo diante da epidemia mundial de AIDS, e a se condenar o sexo antes do casamento, sem se levar em conta que nos tempos antigos as pessoas casavam-se praticamente ainda na adolescência e não desenvolviam os problemas psicológicos que podem surgir, decorrentes de um adiamento da experiência sexual em uma espera muitas vezes longa e absolutamente contrária à natureza humana.

Em nome de um “Mestre Iniciado” que, segundo afirmam, teria prometido o derramamento do “Espírito Santo” e dons espirituais genuínos a todos os que cressem, vemos hoje em inúmeras comunidades cristãs pessoas enfrentando problemas seríssimos causados por médiuns exatamente iguais aos médiuns espíritas, sujeitos exatamente aos mesmos acertos ou erros; porém, ao contrário dos médiuns espíritas conscientes e sérios, estes são extremamente pretensiosos, ignorantes e irresponsáveis. São tão ou até mais perigosos do que alguns médiuns espíritas mal orientados, pois estes nem sequer sabem que são simplesmente médiuns, conhecimento que certamente faria um grande bem às suas almas, embora possa certamente fazer um grande mal a seus enormes egos. Tais pessoas se julgam revestidas de santidade e, consequentemente, investidas de infalibilidade, “profetizando” curas e bênçãos de todos os tipos para pessoas que continuam, porém, doentes e cada vez mais distantes das bênçãos anunciadas pela própria mente do “profeta” ou por espíritos zombadores, que encontram amplo terreno para se manifestar livremente em um meio onde muitas pessoas, geralmente detendo um baixo nível de instrução, se consideram “espiritualmente infalíveis”, simplesmente por se dedicarem a práticas absolutamente inócuas e manifestamente ineficazes contra a empáfia dos mesmos, como jejuns regulares, e orações prolongadas no alto de morros tidos como “locais consagrados à oração”.

Em nome de um “Mestre Iniciado”, que segundo se diz, pregou a humildade, seus atuais discípulos fazem questão de ostentar vestuário dito “social”, numa tola demonstração de vaidade que, muitas vezes, compromete parte considerável dos rendimentos destes mesmos discípulos. É de se notar que, apesar de ninguém saber exatamente como os primeiros cristãos se trajavam, ainda existem muitos que julgam seus companheiros de crença em função do vestuário utilizado. Existe atualmente, em boa parte das igrejas cristãs, uma crescente obsessão por uma “prosperidade” que, em muitos casos, não passa de mal disfarçada megalomania, a qual muitas vezes leva a pessoa a uma situação financeira pior, às vezes até mesmo desastrosa. Apesar disso, e em flagrante constraste com o conceito de humildade, esta obsessão por bens materiais é estimulada de forma deselegantemente explícita por muitos chamados “líderes” de comunidades cristãs.

Em nome de um “Mestre Iniciado”, que enfrentou e escandalizou os hipócritas do seu tempo afirmando que meretrizes os precediam no “Reino dos Céus”, muitos dos seus atuais pretensos discípulos, demonstrando total ignorância em relação à misericórdia de tal afirmação, ainda agem exatamente como os falsos religiosos daquele tempo. Ainda hoje há frequentadores de comunidades cristãs de diversas orientações que se julgam membros de uma casta superior, desprezando e referindo-se às pessoas de outras religiões, às vezes até mesmo de outras comunidades cristãs, como se fossem “seres inferiores”.

Em nome de um “Mestre Iniciado”, que teria dito a seus discípulos que eles conheceriam a verdade e ela os libertaria, “líderes” totalmente despreparados, sem um mínimo de cultura, ou seja, conhecimento (em algumas comunidades ditas cristãs, há “líderes” e “autoridades da igreja” que mal sabem ler!), nem um mínimo de condições emocionais para cargos de liderança, oprimem seus rebanhos, impondo-lhes de forma despótica suas próprias opiniões como verdades absolutas, cujo questionamento ou é ameaçado com o “fogo do inferno”, ou dá lugar a uma sumária e piedosa exclusão da comunidade em questão.